Cecília Camargo
Leiteira, bule e xícara. Nos quintais do tempo, árvores e lago, café e leite, para príncipes e princesas.
Ao cair da tarde, cuidadosamente, guardava-as a um canto, próximo ao porão.
Nos dias que se seguiam, a maior era a leiteira, a média era o bule e a menor era a xícara.
Não que lhe faltasse brinquedos, mas sua imaginação de criança transcendia.
Em seu castelo, sua prataria era de granito. Com mesuras e rapapés, servia a mesa no chão de terra batida.
Mas seus olhos percorriam grandes salões e jardins em forma de labirinto.
Até que um dia, um grande dragão apoderou-se de seu castelo.
Seus salões caíram por terra, seu lago desapareceu e sua prataria tão querida sucumbiu sob os escombros de seu sonho de menina.
O quintal daria lugar a uma construção de verdade. E o que era aquilo afinal, senão apenas pedras?
Por muitos dias a menina cavou o chão atrás de seu pequeno tesouro, até perceber que sua infância fora enterrada com ele.
O mundo adulto se avizinhava ameaçador. Não havia mais lugar para o faz-de-conta. Tinha de crescer, quisesse ou não.
E para não se deixar entristecer, a menina separou em seu coração uma pequenina parte e nele depositou a essência de suas três pequenas joias, que hoje ainda adornam suas lembranças.
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