terça-feira, 28 de setembro de 2010

do tempo o túnel


Cecília Camargo


versão dois


do tempo o túnel
ar úmido
a porta se abre para
segredos esquecidos
as paredes sussurram
enquanto o verde
desperta

27/09/2010







versão um

do tempo o túnel
ar úmido
a porta se abre
para segredos esquecidos
as paredes sussurram
enquanto o verde
desperta

sob os escombros
palavras se escondem
dispersas
evitam o encontro
com sua imagem
nos fragmentos
do espelho
que um dia
refletiu
o céu
de nós dois

27/09/2010



exercício de criação 6

O que a foto te faz pensar? Que lugar é esse? O que aconteceu antes?

http://gambiarraliteraria.blogspot.com/2010/09/exercicio-literario-6.html

a gota

Cecília Camargo

brota
a gota
escorre caminhos
desliza suave
sorve a pele
reversa atração
nascida do ápice
sucumbe
na mansidão
do abraço


exercício de criação 5

http://gambiarraliteraria.blogspot.com/2010/09/exercicio-de-criacao-5.html

 

segunda-feira, 30 de agosto de 2010

caleidoscópio



Cecília Camargo

pequenas trincas
veias
nas paredes nuas
fronteiras

o espelho
reflete o vazio
fios
conectam-me
ao mundo exterior

o piso frio
me observa
submisso

sozinha

estou numa cela
que oprime
e angustia

uma risada
ressoa pelo corredor

pequenos passos
e o pulo sobre a cama
transformam a cela
em ninho
o sorriso da criança
liberta-me

à noite
você

sua pele
macia e quente
transforma o ninho
em alcova

seus braços
me envolvem
seus lábios me tocam

a cela
ficou para trás
o ninho
reservado para o dia

na alcova
você e eu
entre a maciez dos lençóis


27/08/2010

exercício de criação 4

http://gambiarraliteraria.blogspot.com/2010/08/exercicio-de-criacao-4.html

sexta-feira, 20 de agosto de 2010

relação



Cecília Camargo

tempo relativo
tempo corre
livre
sem pensar

não conta
os grãos
que escoam
pela ampulheta

busca palavras
no fundo das letras
negro teclado
convida

ato de criar
ato de amar

preliminares
envolvimento
tensão
tesão
prazer
ápice

sete minutos

no gozo
a criação do poema

20/08/2010

Exercício de criação 2

http://gambiarraliteraria.blogspot.com/2010/08/exercicio-de-criacao-2.html

 

feitiços



Cecília Camargo


dobradura de papel
feito casa
sob o luar
joga feitiços
espera

alimenta-se dos sonhos
das gerações passadas
e das que estão por vir

repete
palavra por palavra
seu desejo

materializa
rosto
mãos
voz

espontânea
intui um nome
um sorriso

deita-se ao lado
da pequena casa de papel
espera

olha a lua
conta estrelas
adormece

pela fresta
da pequena porta
escapa a luz
que denuncia
alguém
a velar por seu sono


20/08/2010

Exercício de criação 3

http://gambiarraliteraria.blogspot.com/2010/08/exercicio-de-criacao-3.html

 

sábado, 7 de agosto de 2010

beco



Cecília Camargo

ar úmido

e o silêncio
cortado apenas
pelo tic tac do relógio
na antiga casa

o tempo
refletido
na poça
escoa

pedras silentes
testemunharam
carinhos roubados

a sacada
enseja o solo
do pássaro

arcos suavizam
a estreita passagem
ornada por centelhas
de natureza

por trás da curva
é sua boca
que me espera


(Exercício de criação 1 – Gambiarra Literária)
06/08/2010

segunda-feira, 8 de março de 2010

Blogagem Coletiva '100 anos de Dia Internacional da Mulher - Celebrar o quê?'




Blogagem Coletiva '100 anos de Dia Internacional da Mulher - Celebrar o quê?'




Celebr-ação

Cecília Camargo

neste dia
não quero flores
bombons
felicitações

sou mulher todos os dias
dona do meu prazer
autora de minha vida
senhora do meu destino

neste dia
quero apenas
que as mulheres
sintam orgulho
do sangue
que derramam
à mãe terra
todos os meses
que não escondam
essa fertilidade sagrada

que não se julguem
inferiores
diferentes
de segunda classe

desejo neste dia
que as mulheres
do mundo todo
entendam
que não devem ser
maltratadas
humilhadas
agredidas

que devem ser donas
de seu corpo
de seu apetite
de suas vontades

que conquistem
a liberdade
de serem o que quiserem
e não o que dita a moda
de usar o que lhes agrada
e não o que deforma seu corpo

neste dia
não quero menos
do que ser
total
e essencialmente
mulher

08/03/2010

quinta-feira, 7 de janeiro de 2010

Devaneios

Cecília Camargo

A respeito de flores
ao longo da ferrovia


Borboletas vermelhas
Frutificam nas árvores
Iludindo colibris

Num átimo
Vislumbram viajantes
Por entre janelas

Olhares cansados
Almas sufocadas

Contraponto

Com o verde ao redor
E com o vermelho
Nos galhos
Presos ao passado

Do andarilho
Que ressona
Sonhando com flores
Vermelhas voejantes

Gota de cernambi

Cecília Camargo

A respeito da sensação de
estar entre seus braços.


Abro os olhos
Percebo que repouso
Sobre um leito macio

Sinto que estou
Dentro da concha
Que docemente me hospeda

Antes de estar aqui
Já fui grão de areia
Áspero
Sem brilho

Aninhei-me na oferta
De seu carinho
E na maciez de suas entranhas
Me descobri

Lentamente
Seu calor me transformou
Dando-me brilho

Fui cingida
Por seu afeto
Ungida
Por seu suor

Nas noites partilhadas
Despojei-me das mazelas
Recobrindo-me do nácara
Que seu amor forneceu

Conheci a saciedade
Com sua presença
E minha plenitude
Reconhecendo-me pérola

Manto Sagrado

Cecília Camargo


tecido de nácara
a um toque se contrai
em frêmito

brandi meus seios
como punhais
que desenhavam no tecido
espirais

neste mapa
tão meu conhecido
vislumbro contornos
mordisco desejos

faminta saboreio
virilidade
no compasso da busca
cumplicidade

no silêncio do momento
escuto o grito do mundo
esquecido a um canto da alma

na noite que se esvai
me abandono
aninhada em seu calor

Voyer

Cecília Camargo


Você me olha
Sempre mudo
Olhar surdo
Silente
Indescente...

Olhar que indaga
Incomoda

Retribuo

Percebo
Um leve sorriso
De menino matreiro

Suave
Distante
Misterioso

Espero o dia
Em que poderei
Ouvir o som
De sua voz

Enquanto isso
Fico simplesmente
A me deixar observar

Diálogos mudos

Cecília Camargo

Para Emeric Marcier

Tentar ouvir
a imagem
ler cores
traduzir formas

brincar de esconde-esconde
por entre afrescos
e bancos da capela

deslumbramento de criança
olhar o velho
com novos olhares
desvelar

buscar símbolos
escondidos
décadas atrás
entre sacras imagens

descobrir o homem
traduzido no artista
em meio a multidão
que observa
a história
do mundo e da fé

e no fundo
bem no canto
esquecido na sacristia
um semblante
vela orgulhoso
sua grande obra