terça-feira, 8 de março de 2011

Três pedras



Cecília Camargo

Leiteira, bule e xícara. Nos quintais do tempo, árvores e lago, café e leite, para príncipes e princesas.

Ao cair da tarde, cuidadosamente, guardava-as a um canto, próximo ao porão.

Nos dias que se seguiam, a maior era a leiteira, a média era o bule e a menor era a xícara. 

Não que lhe faltasse brinquedos, mas sua imaginação de criança transcendia.

Em seu castelo, sua prataria era de granito. Com mesuras e rapapés, servia a mesa no chão de terra batida.

Mas seus olhos percorriam grandes salões e jardins em forma de labirinto.

Até que um dia, um grande dragão apoderou-se de seu castelo.

Seus salões caíram por terra, seu lago desapareceu e sua prataria tão querida sucumbiu sob os escombros de seu sonho de menina.

O quintal daria lugar a uma construção de verdade. E o que era aquilo afinal, senão apenas pedras?

Por muitos dias a menina cavou o chão atrás de seu pequeno tesouro, até perceber que sua infância fora enterrada com ele.

O mundo adulto se avizinhava ameaçador. Não havia mais lugar para o faz-de-conta. Tinha de crescer, quisesse ou não.

E para não se deixar entristecer, a menina separou em seu coração uma pequenina parte e nele depositou a essência de suas três pequenas joias, que hoje ainda adornam suas lembranças.

http://gambiarraliteraria.blogspot.com/2011/01/exercicio-de-criacao-n-9.html

Gambiarra Literária - Exercício de criação nº 9


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