terça-feira, 30 de janeiro de 2024

 Pode parecer anacrônico, mas quero começar com uma crônica sobre o Natal...


O perfume do Natal


Minha mãe adorava comemorar o Natal. Meu pai, aproveitava o terreno grande e plantava ciprestes ao redor de todo o quintal, que acabava por servir de cerca para, no final de ano, cortar e termos a árvore natural dentro de casa, colocada em uma lata com areia, embrulhada em papel pedra. O perfume do cipreste preenchia a casa e trazia o espírito do Natal. A árvore era devidamente enfeitada com bolinhas e enfeites, todos feitos de vidro colorido e o pisca era de lâmpadas coloridas grandes em relação às de hoje, com formatos de frutas, doces, entre outros. Uma vez ganhei um Papai Noel com balinhas dentro e ele era de plástico vermelho. No ano seguinte, meu pai fez uma adaptação no pisca e colocou uma das lampadinhas dentro dele. Para mim, ficou o máximo. Decididamente, era o período do ano que eu mais gostava.

Meus pais se empenhavam em conseguir dinheiro, além do parco salário que meu pai recebia, com trabalhos extras, para poderem comprar os presentes que nós, eu e meu irmão, pedíamos para o Papai Noel. Nesse sentido éramos privilegiados, pois a maioria das famílias naquela época, ou dava coisas simples de presente, ou nem dava. Mas meus pais se esforçavam e nos davam os brinquedos que pedíamos.

A fábrica que meu pai trabalhava dava uma boneca de presente de final de ano e uma festa de confraternização para as famílias dos trabalhadores. Voltava para casa abraçada na caixa da boneca, me deliciando com o perfume natural de plástico novo, ansiosa por abrir e brincar com ela. Sempre adorei bonecas.

Agora, me pego relembrando esses natais e o que vem à memória, não são apenas as cenas, mas os odores, quanto de minhas memórias que estão ligadas a esses “perfumes”.

Nesse período me sinto muito mais próxima de meus pais e avós, que tanto gostavam de comemorar o Natal, parece que eles estão mais vivos e próximos do que em outras datas. Faço questão de manter muitas tradições e continuar montando a árvore, agora artificial, com enfeites de plástico, não mais de vidro, por conta da gata que tenho em casa e das crianças que estão sempre por perto. Montamos o presépio, sempre contando histórias do passado e dos significados de cada peça, faço isso com meu filho e com meu neto. E nesse momento nos conectamos entre nós que estamos presentes, com os nossos antepassados presentes agora na memória e nas tradições e deixo com meu filho e neto a continuidade de manterem o legado de família. E é essa conexão entre gerações presentes e ausentes que, para mim, representa exatamente o espírito do Natal.

Assim, a cada ano, construímos novas memórias e nos entrelaçamos na vida das pessoas que amamos. E sim, sempre temos enfeites a mais, para que qualquer um que venha nos visitar, possa também enfeitar a árvore, manter a tradição e criar memórias conosco.

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